A fim de valorizar a sociobiodiversidade e os saberes da Caatinga, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) atua no bioma desde 2010. Guiado pelo objetivo de construir soluções para lidar com os desafios locais e promover maior sustentabilidade ambiental e melhor qualidade de vida às famílias sertanejas, uma das principais iniciativas é o incentivo às tecnologias sociais de convivência com o semiárido. Esse trabalho impacta diretamente na segurança hídrica, alimentar e energética das comunidades catingueiras, conciliando sustentabilidade com o desenvolvimento socioeconômico.
A história nesse rico território começou com o Programa Cisternas BRA 007-B (2010-2014), fruto de uma cooperação internacional entre Brasil-Espanha e que alcançou os nove estados do bioma. Com o Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, localizado em Piranhas (AL), demos continuidade às práticas sustentáveis e ao fortalecimento das tecnologias sociais no bioma — dessa vez, trabalhamos de 2013 à 2024 em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária de Alagoas. Outro projeto paralelo foi iniciado em 2020 e finalizado em 2023: o projeto Canal da Cidadania buscou criar alternativas de trabalho e renda no meio rural para as populações circunvizinhas ao Canal do Sertão, considerando a sustentabilidade produtiva.
Relembre essas histórias conosco!
A Caatinga
A Caatinga é considerada por muitos especialistas como o bioma mais sensível à interferência humana e às mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que representa um significativo estoque de carbono, de acordo com o Observatório Nacional da Caatinga. É fundamental, também, para o equilíbrio climático nacional, para a conservação da biodiversidade e para a produção de alimentos. Ocupa cerca de 734.478 km², o que representa aproximadamente 11% do território nacional e 70% da região Nordeste. Abrange nove estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, além do norte de Minas Gerais.
Exerce papel estratégico para a resiliência climática do país e tem muito a ensinar sobre adaptação às mudanças do clima e protagonismo dos saberes tradicionais. Essa consciência permeou cada uma das nossas iniciativas nesse diverso e vasto território. Durante muitos anos, lidar com os fenômenos climáticos da Caatinga significava “combater a seca”. Essa visão mudou: hoje, fala-se de convivência com o semiárido, do entendimento das dinâmicas territoriais no bioma e do protagonismo dos conhecimentos já produzidos por quem vive ali para lidar com esses contextos.
Ao invés de combater o que é natural do bioma e do Semiárido, vamos construir soluções em conjunto para coexistir com o sertão, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida das famílias sertanejas, o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental. Nesta data de celebração a esse biodiverso e estratégico bioma, te convidamos a conhecer dois dos nossos projetos realizados no bioma: o Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, o Programa Cisternas BRA 007-B e o Canal da Cidadania.
Centro Xingó de Convivência com o Semiárido: inclusão, sustentabilidade e valorização dos conhecimentos sertanejos
Com o objetivo de gerar conhecimentos e compartilhar estratégias sustentáveis e acessíveis para a produção no sertão alagoano, o Centro Xingó de Convivência com o Semiárido fez parte da história do IABS, de 2014 a 2024.
Sua atuação foi movida pelo desejo de melhorar a qualidade de vida das comunidades locais, especialmente no município de Piranhas e entorno. Nesse cenário, as tecnologias sociais se transformam em ferramentas fundamentais para apoiar a segurança alimentar e hídrica das famílias do Semiárido — e difundir esses conhecimentos fez parte da nossa atuação com o Centro Xingó.
Atuamos junto à Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária de Alagoas pela valorização de saberes, experiências e os modos tradicionais de produção, pela educação ambiental, pelo reconhecimento da sociobiodiversidade sertaneja e pelo fomento de práticas rurais resilientes e acessíveis. O Centro Xingó conta com diversas unidades demonstrativas, apresentando tecnologias sociais de convivência com o semiárido e práticas produtivas sustentáveis. Entre as atividades produtivas do Centro, destacam-se ações de promoção da ovinocaprinocultura, avicultura caipira, apicultura, cultura de espécies forrageiras e biofábrica para produção de sementes e mudas.
Cisternas variadas para captação de chuva — dos tipos calçadão, enxurrada e integrada à energia solar —, barramento de base zero, biodigestor, canteiro, tanque de pedra e barragem subterrânea são alguns exemplos de tecnologias sociais desenvolvidas no Centro. Além das estruturas demonstrativas de referência, o Xingó também mobilizou atividades de educação ambiental, como visitas escolares e trilhas ecológicas.
São histórias de transformação mútua. “A nossa relação com o Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, certamente, vai muito além da execução de uma atividade ou de um projeto. Com o Centro Xingó, no lindo município de Piranhas (AL), entramos no universo sertanejo, nos conectamos ainda mais com o bioma Caatinga e vivemos o propósito de buscar um caminho inclusivo e sustentável para essa região com tantos desafios e oportunidades”, apresenta o IABS, no livro de 10 anos do Centro Xingó.
Venha conhecer mais detalhes dessa história em nosso livro! Acesse o livro “Centro Xingó — 10 anos de convivência com o semiárido” aqui.
Seminários e Cursos Internacionais de Convivência com o Semiárido
Seguindo em paralelo com a história do Centro Xingó até 2024, organizamos 11 Seminários Internacionais e 10 Cursos Internacionais de Convivência com o Semiárido, juntamente com as feiras de valorização do artesanato local e da sociobiodiversidade catingueira, além da taxa solidária — uma mobilização nacional e internacional para arrecadar doações para uma comunidade da região, ação tradicional dos eventos de Seminário e Curso.
“Essa convivência com o tema também tem nos transformado. Estamos nos tornando, cada vez mais, uma instituição resiliente, ainda mais sensível aos desafios sociais que atravessam a realidade brasileira e mais compassivos com as características ambientais e locais de cada ação ou projeto que executamos”, relata IABS também no livro de 10 anos do Centro Xingó.
Na 11º edição do Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido, realizado em 2024, mais de 100 pessoas participaram presencialmente de cada dia do Seminário, entre profissionais, estudantes, agricultores(as) e demais interessados no desenvolvimento sustentável local. Nesse encontro, debatemos formas de inovação e boas práticas produtivas no combate à desertificação, fenômeno que vem ameaçando os ecossistemas catingueiros.
Para Paulo Pedro de Carvalho, ponto focal nacional da sociedade civil na Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) no combate à desertificação, os encontros propostos pelo Centro Xingó são importantes para todas as pessoas e organizações que lutam por um semiárido mais digno, vivo e justo. “Para a gente é sempre uma honra muito grande, porque a gente sabe que estar aqui nesse Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido é estar construindo essas ações concretas que ajudam a promover a convivência com semiárido, a promover a agroecologia”, declara Paulo Pedro.
E continua: “Assim, a gente está combatendo a desertificação. A gente se soma e se sente muito honrado de poder estar participando aqui, com toda a equipe do IABS e todos os parceiros deste grande evento, já na sua 11ª versão”, acrescenta.
Programa Cisternas BRA 007-B: defendendo o direito à água no sertão nordestino
Fruto de uma cooperação internacional entre Brasil e Espanha, o Programa Cisternas BRA 007-B nasceu em 2010 e alcançou os nove estados do semiárido brasileiro — Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Com o objetivo de consolidar e difundir diferentes tipos de ações e conhecimentos para a convivência com o semiárido — especialmente por meio das tecnologias sociais para o território —, buscou contribuir para a transformação social, a promoção e valorização da água como um direito essencial à vida e à cidadania, protagonizando os saberes e a atuação da população local.
Os resultados do Programa Cisternas foram expressivos e superaram as metas iniciais. Abarcando os nove estados do nordeste brasileiro e alcançando 1.133 municípios, foram 160 mil pessoas beneficiadas diretamente pelo Programa. No eixo educativo, 3 mil pessoas foram capacitadas pelas atividades educativas mobilizadas pelas ações — que incluíram, também, os três cursos de ensino à distância organizados pelo Programa. Ao total, 15.519 tecnologias sociais foram implementadas, como as cisternas domiciliares, calçadão e escolares.
Vinculado ao Fundo de Cooperação para Água e Saneamento (FCAS), o Programa foi criado a partir da parceria entre o Instituto de Crédito Oficial (ICO), em nome do Governo Espanhol, e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS). O aporte financeiro foi oriundo da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), com contrapartida do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
O Programa fez parte de um esforço de políticas públicas para universalização do acesso à água, com ações práticas impulsionadas para difusão de tecnologias sociais de convivência com o semiárido. Essas tecnologias, participativas e baseadas nos saberes locais e nas especificidades de cada território sertanejo, possibilitam a viabilidade e segurança hídrica, alimentar e econômica na região e, especialmente, o protagonismo das pessoas da Caatinga.
“A oportunidade de desenvolver ações no semiárido brasileiro trouxe ao mesmo tempo desafios e grandes aprendizagens a todos os envolvidos no Programa. As parcerias, o modelo de gestão e a dedicação de todos garantiram o êxito do Programa, que atingiu as metas estabelecidas e conseguiu ir além delas, unindo superação com inovação. A rede de atores e as estratégias de continuidades criadas ao longo dos cinco anos de desenvolvimento do Programa garantem a sustentabilidade necessária para que trabalhos desse tipo, [com] real potencial de replicação da efetiva troca de saberes com o conhecimento local, possam ser difundidos e fortalecidos”, apresenta o livro da iniciativa.
Ao final, o Programa aponta para o futuro, com esperança de melhorias na qualidade de vida na Caatinga. “Esperamos que estes esforços, alianças, resultados e inovações do Programa se mantenham e se fortaleçam, já que ainda há muito que se fazer. Ainda existem muitas famílias que precisam conquistar muitos outros direitos básicos, ter acesso a outros tipos de tecnologias sociais adaptadas às suas realidades, além do real empoderamento e protagonismo que os transformam nos principais condutores de suas vidas”, finaliza.
Tem interesse em iniciativas que atuam pela segurança hídrica na Caatinga? Conheça o livro “Cooperação Brasil-Espanha para Acesso à Água e Convivência com o Semiárido: Parcerias e Inovação Rumo à Convivência com o Semiárido”.
Canal da Cidadania: fortalecendo o uso sustentável da água para a agricultura
Iniciado em 2020 e finalizado em 2023, o projeto Canal da Cidadania buscou criar alternativas de trabalho e renda no meio rural para as populações que vivem às margens do Canal do Sertão, considerando a sustentabilidade produtiva. Suas ações voltaram-se para o apoio das famílias agricultoras, a partir de assistência técnica com o desenvolvimento de modelos socioprodutivos, da agricultura resiliente, do fortalecimento das tecnologias sociais e da comercialização dos produtos. Ao final, 52 famílias foram beneficiadas, nos municípios alagoanos de Delmiro Gouveia, Pariconha e Água Branca.
Ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o projeto enfrentou o desafio de superar as adversidades ambientais e sociais presentes no sertão alagoano, encontrando soluções que desenvolvessem e disseminassem práticas efetivas e sustentáveis, especialmente no uso da água. Também buscou apresentar alternativas de produção sustentável de forma integrada com a ampliação da qualificação dos serviços de assistência técnica, extensão rural e capacitação. Dessa forma, foi possível incentivar a inovação e a sustentabilidade dos sistemas produtivos, apoiando a organização da agricultura familiar e incentivando a juventude regional a continuar no campo, com dignidade, qualidade de vida e novos horizontes.
No eixo educativo do projeto, foram realizadas 6 turmas de oficinas participativas; ao passo que, para o apoio técnico, foram 30 kits de irrigação entregues às famílias beneficiárias. Esses resultados dialogam diretamente com a missão do projeto: fortalecer as práticas de produção sustentáveis locais, mobilizar estratégias para inserção dos produtos no mercado e apoiar a autonomia produtiva e de gestão das famílias na região.
Se interessou pelo tema? Saiba mais sobre essa iniciativa aqui.