Sustento de famílias costeiras e ribeirinhas, a aquicultura sustentável tem o potencial de gerar mais renda para quem vive das águas, fortalecer comunidades, criar outras alternativas de empregos, valorizar patrimônios imateriais e a cultura local e, ainda, criar um legado de sustentabilidade para as próximas gerações. Esse é o centro de projetos colocados em prática pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e, neste 20 de março, Dia Nacional da Aquicultura, te convidamos a relembrar esse potencial.
Por definição, a aquicultura se dá pela criação de organismos aquáticos em ambientes controlados, como por exemplo, peixes, crustáceos e moluscos. A atividade de constante crescimento se tornou hoje, no Brasil, uma importante fonte de emprego e renda para comunidades costeiras e ribeirinhas. Segundo o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), publicado em 2024, pela primeira vez na história, a aquicultura superou a captura pesqueira como principal produtora de animais aquáticos a nível mundial, representando 51% da produção total.
Ainda no relatório da FAO, a América Latina e o Caribe se tornaram a região com a segunda maior produtora de aquicultura, registrando 4,3 milhões de toneladas de produção aquícola, o que se traduz em cerca de 3,3% do total mundial. O primeiro lugar seria da Ásia com significativos 91,4%.
Para o Engenheiro de Aquicultura e consultor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), Lucas Gomes Mendes, a aquicultura é o futuro da produção de alimentos aquáticos. “Enquanto a pesca tradicional depende dos estoques naturais, muitas vezes sujeitos à sobrepesca e mudanças climáticas, a aquicultura oferece uma solução controlada e sustentável para atender à crescente demanda por proteínas”. Ele ainda afirma que, no futuro, sistemas altamente tecnológicos irão facilitar a prática de forma sustentável com a eliminação de resíduos e impactos ambientais.
Enquanto isso, “a melhor forma de praticar a aquicultura de maneira sustentável é integrando-a a conceitos como a economia circular e o uso eficiente de recursos. Sistemas multitróficos integrados (IMTA), que combinam peixes, moluscos e algas, permitirão a reciclagem de nutrientes, reduzindo desperdícios, por exemplo. No horizonte da aquicultura sustentável, veremos fazendas automatizadas operando com monitoramento em tempo real por sensores e drones subaquáticos, garantindo bem-estar animal e qualidade da água”, destaca Lucas.
Dentro dessa linha de importância, a aquicultura se tornou um tema essencial para a criação de tecnologias e projetos que viabilizassem a prática de forma responsável, sem que ocorram prejuízos ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que valoriza as comunidades em busca de melhores condições de vida.
Fortalecimento de comunidades
A atuação do IABS promove a aquicultura sustentável e vai além da introdução de tecnologias, focando na formação e capacitação das comunidades locais como forma de garantir que as práticas sustentáveis sejam aplicadas corretamente. As iniciativas capacitam os(as) pescadores(as) e aquicultores(as) a gerenciar suas atividades de forma responsável, melhorando a qualidade dos produtos e, consequentemente, a renda das famílias.
Além disso, ao apoiar as organizações locais e fomentar a criação de redes de cooperação, é possível aumentar a eficiência das atividades produtivas e ampliar o acesso ao mercado, promovendo o fortalecimento sociocultural destas comunidades. Relembre algumas das nossas atuações no tema!
- Ostras Depuradas de Alagoas
O Projeto Ostras Depuradas de Alagoas é uma iniciativa que busca integrar a produção comunitária de ostras às cadeias de valor, promovendo a agregação de valor ao produto e ampliando as oportunidades de trabalho e renda para as comunidades locais. Desenvolvido em parceria com associações comunitárias, o projeto incentiva práticas sustentáveis de cultivo, reduzindo os impactos ambientais e garantindo a qualidade do produto final.
Um dos principais diferenciais do projeto é a participação ativa das comunidades em todas as etapas, desde a produção até a comercialização. Além disso, ele fortalece a conexão entre os produtores locais, chefs de cozinha e consumidores, criando uma rede de valorização do produto regional.
A iniciativa conta com o suporte da Unidade de Depuração de Moluscos Bivalves, localizada em Coruripe, no litoral sul de Alagoas.
- Ostras e Comunidades Com o objetivo de fortalecer os grupos produtivos de ostras no litoral sul de Alagoas, o Projeto Ostras e Comunidades beneficia diretamente 30 famílias das comunidades de Palatéia, Roteiro e Barreiras de Coruripe. Além de impulsionar a produção, a iniciativa busca ampliar a comercialização do produto, gerando trabalho e renda para os envolvidos. A atuação do projeto promove capacitações teóricas e práticas, auxílio nos processos de licenciamento ambiental e registro dos aquicultores, assistência técnica especializada, e apoio na comercialização por meio de estudos de mercado e ações coletivas de inserção socioprodutiva. Com isso, o projeto visa não apenas fortalecer a cadeia produtiva da ostra na região, mas também promover o desenvolvimento sustentável das comunidades envolvidas, garantindo maior estabilidade econômica e preservação dos recursos naturais.
- Camarão do Sertão Já finalizado, o Projeto foi um exemplo de sucesso no sertão pernambucano no que diz respeito ao cultivo de camarões de água salgada utilizando água doce mineralizada do Rio São Francisco. A parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) foi além da simples produção de camarões, buscando fortalecer a capacidade produtiva das comunidades e ampliar suas oportunidades no mercado. A iniciativa abrangeu as áreas de Cabrobó, Petrolândia e Petrolina, em Pernambuco, e por conta de sua tecnologia inovadora, aproximadamente 40 pessoas foram diretamente beneficiadas, não apenas com o desenvolvimento da atividade aquícola, mas também com a possibilidade de transformar suas comunidades e criar um futuro mais sustentável e próspero no sertão. Com a introdução dessa prática, os(as) produtores(as) locais adquiriram conhecimentos técnicos e passaram a aplicar a tecnologia em suas próprias terras, promovendo a diversificação econômica da região.
A aquicultura sustentável se mostra, portanto, como um caminho promissor para garantir o desenvolvimento socioeconômico de comunidades costeiras e ribeirinhas, ao mesmo tempo em que contribui para a preservação dos recursos naturais. Com a implementação de tecnologias inovadoras e iniciativas que valorizam o conhecimento local, é possível fortalecer cadeias produtivas, gerar renda e criar um modelo de produção mais equilibrado e responsável. O compromisso com práticas sustentáveis não apenas impulsiona a economia, mas também assegura que as futuras gerações continuem a se beneficiar dos recursos aquáticos de maneira consciente e duradoura.
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